30 novembro 2010

Sete fantasmas de Hollywood em Sunset Blvd.

Sunset Boulevard (1950) é, muito provavelmente, a mais cínica homenagem já prestada ao passado de Hollywood, essa terra de sonhos, máquina de estrelas.
Em 1927 dá-se uma profunda revolução na industria cinematográfica americana com a introdução do som nos filmes. Muitas foram as baixas, já que nem todos conseguiram adaptar-se a esta nova dimensão que o Cinema passava a incorporar.
Que melhor maneira de retratar a trajectória cadente das estrelas do mudo senão com as próprias estrelas desse período, 20 anos de decadência depois de terem saído da tela as proféticas palavras: «you ain't heard nothin' yet» ?
*

1. Gloria Swanson

A grande diferença entre Norma Desmond e Gloria Swanson é, para além de toda a bizarria e extravagância, fundamentalmente esta: Gloria, ao contrário de Norma, teve o seu return - precisamente com Sunset Blvd.
Gloria Swanson participou em mais de 50 filmes durante os anos do mudo, os melhores dos quais dirigidos por Cecil B. DeMille para a Paramount Pictures (tal como Norma pretendia para Salomé). Para além de uma das maiores actrizes da altura, era vista como um ícone da moda, dotada de uma presença deslumbrante na tela - ajudou certamente a definir as qualidades que uma "estrela" deve ter para efectivamente o ser.
Trabalhou com os grandes realizadores da altura: o já referido DeMille, Sam Wood, Raul Walsh e, claro, Erich von Stroheim. Teve uma breve incursão no sonoro mas muito rapidamente foi votada ao esquecimento - entre 1932 (ano de Queen Kelly) e 1950 (Sunset Blvd) participaria em apenas dois filmes.
Nomeada para o Óscar de melhor actriz por três vezes - uma por Sadie Thompson, 1928, mudo; outra por The Trespasser, 1929, o seu primeiro sonoro; e, claro, por Sunset Blvd. - nunca a estatueta lhe foi entregue.
Depois do seu merecido return fez mais dois filmes e teve algumas participações em séries televisivas; nada que lhe devolvesse, nem sequer remotamente, a fama do mudo. A estrela apagava-se definitivamente mas, com Sunset Blvd., deixaria para sempre o público ofuscado com a sua apoteótica vitória sobre a morte lenta que Hollywood lhe havia destinado.


2. Erich von Stroheim

Max: There were three young directors who showed promise in those days: D. W. Griffith, Cecil B. DeMille, and Max von Mayerling - ou seja, Erich von Stroheim. Não exactamente, certamente haveria muitos mais (King Vidor, por exemplo), mas o realizador austríaco pertenceria, sem dúvida, a esse grupo restrito.
Era tido como um realizador maldito: a sua estética demasiado vanguardista, as suas filmagens lentas e dispendiosas, os seus filmes gigantes em duração (Greed teria mais de 9 horas e meia se a MGM não o tivesse decepado para o poder exibir comercialmente). Depois do inacabado Queen Kelly nunca mais dirigiu, tendo enveredado, em vez, pela carreira de actor.
Ficam para a história do Cinema dois filmes essenciais: Foolish Wives (1922) e Greed (1924).


3. Cecil B. DeMille

Definição do "Dicionário de Cineastas" de Rubens Ewald sobre DeMille: Realizador e produtor americano, mestre do superespectáculo bíblico, vulgar e exótico, misturando moralismos cristãos, bailarinas desnudadas e grandes efeitos especiais.
Cecil B. DeMille é uma lenda de Hollywood, um ícone da indústria. Representava tudo o que esta tinha de bom e de mau. Tal como os estúdios se souberam adaptar à conversão do mudo para o sonoro, com igualável sucesso, ou mais ainda, o conseguiu DeMille.
Não deixou um legado com particular valor artístico; foi, antes, figura de proa de uma época e de um sistema. Está definitivamente no panteão de Hollywood, mais ao lado dos grandes produtores como Louis B. Mayer, Adolph Zuckor, Darryl F. Zanuck, Irving Thalberg ou David O. Selznick, do que ao lado dos grandes realizadores. A sua obra-prima será, provavelmente, The Ten Commandments, filme que ilustra bem tudo o que DeMille representava para Hollywood.


4. Paramount Pictures

O mais antigo dos estúdios americanos, e um dos cinco "reis" de Hollywood durante a sua época áurea (sendo os restantes a MGM, a Warner Bros., a RKO e a 20th Century Fox).
Fundada por Adolph Zuckor, um emigrante húngaro, acolheu desde a sua fundação actores que se iriam tornar as grandes estrelas do cinema mudo: Mary Pickford, Douglas Fairbanks, Gloria Swanson e Rudolph Valentino. Na década de trintas, a Paramount deu ao cinema americano nomes como Marlene Dietrich, Mae West, Gary Cooper, Bing Crosby e os Marx Brothers.
Não é por acaso que o logo original da Paramount tinha 24 estrelas, tantas quanto as que estavam a contracto com o estúdio, na altura.


5. Os "Waxworks"

Aparecem no filme, a jogar cartas - são os únicos amigos de Norma Desmond. Os seu nomes nem sequer são referidos. São eles:

Anna Q. Nilson - actriz e modelo de origem sueca, muito famosa durante os anos 20 (em 1926 foi eleita a actriz mais popular de Hollywood).

H. B. Warner - no auge da sua carreira interpretou Jesus Cristo, em The King of Kings de DeMille (1927). Resistiu ao advento do sonoro mas foi sempre relegado para papeis secundários. Teve o seu return em It's a Wonderful Life de Frank Capra (1946).

Buster Keaton - o maior deles todos. O único génio da comédia capaz de rivalizar com Charlie Chaplin. A sua persona cómica era conhecida em Portugal como "Pamplinas" (a de Chaplin, "Charlot"). Fez inúmeras obras-primas, sobretudo na década de 20, como Sherlock Holmes Jr. (1924) e The General (1926). A sua expressão facial triste e petrificada é mítica.


6. Os mitos

Nomes que surgem durante o filme e que devem ser realçados. Destacam-se dois:

Rudolph Valentino - foi o maior sex symbol do cinema mudo, o "amante latino", encarnando papéis que davam o mote a esta fama - o sheik das arábias, o heróico toureador, o gaúcho romântico...
O facto de ter morrido no auge da sua carreira e popularidade, aos 31, tornou-o num mito, e propagou a ideia de que as estrelas não envelhecem, apagam-se.

Greta Garbo - uma das maiores actrizes de toda a história do cinema. A dama da beleza gelada sobreviveu à revolução do sonoro e manteve-se como uma das grandes figuras de Hollywood durante a década de 30.
Encarnou papéis míticos como o de Anna Karenina, Mata-Hari, Rainha Cristina da Suécia, e Ninotcha, talvez o melhor dos Garbo movies, realizado por Ernest Lubitsch.
Retirou-se depois de Two-Faced Woman (1941), refugiando-se no seu apartamento de Nova York, longe das câmaras e dos estúdios, até ao dia em que se apagou, aos 84 anos - sem envelhecer um dia, obviamente.


7. Queen Kelly

A obra inacabada que Eric von Stroheim realizou e Gloria Swanson protagonizou. Tanto para um como para outro representou o fim do sonho, o acordar numa transformada e ingrata Hollywood que os queria ver enterrados. Foi produzido por Joseph P. Kennedy, o patriarca do clã Kennedy, na altura amante de Swanson.
Actriz e realizador desentenderam-se ao ponto de esta obrigar o amante, digo, produtor a despedir Erich von Stroheim - there's a madman in charge! dizia Swanson. Desde essa altura e, provavelmente até Sunset Blvd., a relação entre os dois permaneceria extremamente azeda.
Verdadeiro golpe de génio (Billy Wilder, realizador de Sunset Blvd., era-o sem dúvida) foi incluir um excerto dessa obra no filme, na cena em que Norma e Max assistem na sala à projecção das suas glórias passadas, e a um orgulho que Hollywood já não lhes permitia. Norma e Max, tal como Gloria e Eric.
*

Daqui a duas semanas voltaremos a explorar este tema, com a projecção de Singin' in the Rain (1952) de Gene Kelly e Stanley Donen.

02 novembro 2010

27 outubro 2010

Grandes Clássicos Americanos VI


o filme: Singin' in the Rain (1952), de Stanley Donen & Gene Kelly

Grandes Clássicos Americanos V


o filme: Psycho (1960), de Alfred Hitchcock

26 outubro 2010

Grandes Clássicos Americanos IV


o filme: Sunset Blvd. (1950), de Billy Wilder

Grandes Clássicos Americanos III


o filme: The Searchers (1956), de John Ford

25 outubro 2010

Grandes Clássicos Americanos II


o filme: Casablanca (1942), de Michael Curtiz

Grandes Clássicos Americanos I


o filme: Citizen Kane (1941), de Orson Welles

18 outubro 2010

Cinema no Porto, de Outubro a Dezembro

I. Terças Feiras Clássicas | Medeia Campo Alegre

5 Outubro, LOBO DO MAR, Michael Curtiz (1941)
12 Outubro, A PAIXÃO DOS FORTES, John Ford (1946)
19 Outubro, A ÁGUIA VOA AO SOL, John Ford (1958)
26 Outubro, VONTADE INDÓMITA, King Vidor (1949)
2 Novembro, SERENATA À CHUVA, Gene Kelly (1952)
9 Novembro, A SOMBRA DO CAÇADOR, Charles Laughton, (1955)
16 Novembro, A SEDE DO MAL, Orson Welles (1957)
23 Novembro, DEUS SABE QUANTO AMEI, Vincent Minelli (1958)
30 Novembro, VERTIGO, Alfred Hitchcock (1958)
7 Dezembro, INTRIGA INTERNACIONAL, Alfred Hitchcock (1959)
14 Dezembro, PSICO, Alfred Hitchcock (1960)
21 Dezembro, WANDA, Barbara Loden (1970)
28 Dezembro, A ESTRADA NÃO TEM FIM, Monte Hellman (1971)
4 Janeiro, ERASERHEAD, David Lynch (1976)


II. Festa do Cinema Francês | Passos Manuel
19 a 24 Outubro

III. Cineclube do Porto & Milímetro | Passos Manuel
sessões cineclubistas quinzenais

IV. Invicta Filmes | Biblioteca Almeida Garrett
ciclo Stanley Kubrick - Out a Dez

V. Confederação | Auditório de Miragaia
ciclos de cinema

VI. + cineclubes universitários (ver lista ao lado)

stay tuned

01 junho 2010

The End

Agora que o Cineclube acabou, ou lá o que é que acabou de acontecer, vamos explicar-vos de que é que isto se tratou:


p. 366
"As únicas salas de cinema que cumpriam uma função, disse Charly Cruz, eram as velhas, lembras-te? Aqueles cinemas enormes que quando se apagavam as luzes o nosso coração se encolhia. Aquelas salas, sim, eram os verdadeiros cinemas, o mais parecido com uma igreja, tectos altíssimos, grandes cortinas vermelho grená, colunas, corredores com velhas alcatifas gastas, palcos, lugares de plateia, balcão ou galinheiro, edifícios construídos nos anos em que o cinema ainda era uma experiência religiosa, quotidiana, porém religiosa, e que pouco a pouco foram demolidos para edificar bancos ou supermercados ou multicinemas. Hoje, dise Charly Cruz, apenas sobrevivem uns poucos, hoje todos os cinemas são multicinemas, com ecrãs pequenos, espaço reduzido, cadeiras muito cómodas. No espaço de uma velha sala de verdade cabem sete salas reduzidas de um multicinema. Ou dez. Ou quinze, depende. E já não há experiência abissal, não existe a vertigem antes do início de um filme, já ninguém se sente sozinho no interior de um multicinema. Depois, segundo Fate recordava, pôs-se a falar sobre o fim do sagrado.
O fim tinha começado nalgum lado, a Charly Cruz tanto lhe fazia, talvez nas igrejas, quando os padres abandonaram a missa em latim, ou nas famílias, quandos os pais abandonaram (aterrorizados, acredita em mim, brother) as mães. Rapidamente o fim do sagrado chegou ao cinema. Deitaram abaixo os grandes cinemas e construíram caixas imundas chamadas multicinemas, cinemas práticos, cinemas funcionais. As catedrais caíram sob a esfera de aço das equipas de demolição. Até que alguém inventou o vídeo. Um televisor não é o mesmo que um ecrã de cinema. A sala da tua casa não é a mesma coisa que uma velha plateia quase infinita. Mas, se observarmos com cuidado, é o que mais se parece com ela. Em primeiro lugar porque graças ao vídeo podemos ver um filme sozinhos. Fechamos as janelas de casa e ligamos a televisão. Metemos o vídeo e sentamo-nos num cadeirão. Primeiro requisito: estar sozinho. A casa pode ser grande ou pequena, mas se não houver mais ninguém em toda a casa, por mais pequena que seja, de alguma maneira fica maior. Segundo requisito: preparar o momento, isto é, alugar o filme, comprar a bebida que vamos beber, comprar o aperitivo que vamos comer, determinar a hora em que nos vamos sentar diante da televisão. Terceiro requisito: não responder ao telefone, ignorar a campainha da porta, estar disposto a passar uma hora e meia ou duas horas ou uma hora ou quarenta e cinco minutos na mais completa e rigorosa solidão. Quarto requisito: ter à mão o comando à distância para o caso de se querer ver a cena mais de uma vez. E é tudo. A partir desse momento tudo depende do filme e de nós. Se tudo correr bem, que nem sempre corre bem, uma pessoa está outra vez na presença do sagrado. Uma pessoa mete a cabeça no interior do seu próprio peito, abre os olhos e olha, sublinhou Charly Cruz."

2666, Roberto Bolaño

Até para o ano.

28 maio 2010

Última Sessão :: Terça - Feira :: 1 de Junho


City Lights (1931) - de Charles Chaplin

22 maio 2010

7ª Sessão | próxima terça : : 25 de Maio

Le Samoraï (1967) de Jean-Pierre Melville

10 maio 2010

08 maio 2010

6ª sessão :: O HOMEM DA CÂMARA DE FILMAR de Dziga Vertov

União Soviética . 68 min . IMDb

Terça, 11 de Maio | 18h30, sala 260 | Entrada Livre

25 abril 2010

INTO THE WILD, Sean Penn (2007)
EUA . 148 min . IMDb

terça 27 abril às 18h30 (em ponto) | sala 260 | entrada livre

«O Lado Selvagem», de Sean Penn, é a quarta e a sua melhor longa-metragem como realizador. Partindo da adaptação do best seller "Into the Wild", de John Krakauer, Penn realiza um dos mais belos filmes dos últimos anos. Um registo naturalista e existencialista que confronta as audiências com uma interpretação do significado da vida nos tempos correntes.

O livro e o filme inspiram-se na jornada fantástica que Christopher McCandless iniciou em 1992, prolongando-a por dois anos, onde rasgou a pé e à boleia o coração dos Estados Unidos. Christopher abandonou tudo em seu redor para partir à procura da felicidade longe da vertigem civilizacional. O livro provocou grande impacto em Penn, que adquiriu os direitos e estabeleceu uma estreita relação com a família McCandless, fundamentais para a melhor interpretação deste épico humano. Sendo que é baseado em factos verídicos, as convicções chegam até nós inalteradas e carregadas de idealismo.

Christopher (Emily Hirsh) decide caminhar para o lado selvagem, ele percorre a Terra sem animais de estimação, dinheiro ou telefones; ambiciona a liberdade dos lugares virgens da impressão humana. A sua única companhia é feita pelos personagens dos livros que carrega consigo. É um extremista viajante, um Thoreau dos anos 90. A sua casa é a estrada. Até então era um jovem pronto a entrar na faculdade mas frustrado com os pais e consigo mesmo. Até que inicia uma batalha para matar o falso ser no seu interior. Momento crucial na história: o renascer de novo, a transformação de Christopher para Alex Supertramp. Plenamente emancipado da disfuncionalidade dos pais, interpretados por Wiliam Hurt e Marcia Gay Harden, dos excessos dos bens supérfluos, parte então à aventura.» Jorge Pinto in http://www.cinema2000.pt/ficha.php3?id=10248


19 abril 2010

Aviso

Por não se encontrar editado em Portugal, o filme de amanhã "Ikiru" será exibido com legendas em inglês.

18 abril 2010

viver, vivre, to live, leben, жить, ライブ, ikiru

IKIRU, Akira Kurosawa (1952)
Japão . 143 min . IMDb

terça 20 abril às 18h30 (em ponto) | sala 260 | entrada livre

«Muito embora Kurosawa seja principalmente conhecido pelos seus épicos sobre samurais (Os sete samurais e Yojimbo, o Invencível), os seus interesses não se resumem a sangue e entranhas – apesar de nenhum realizador ter explorado como o fez o cineasta japonês todas as potencialidades das imagens de violência no grande ecrã. Kurosawa é, acima de tudo, o maior humanista da sétima arte e Ikiru (viver) é prova cabal disso.

O filme conta-nos a história de Kenji Watanabe (Takashi Shimura, um dos actores predilectos de Kurosawa), um sarariman, ou seja, um assalariado ou burocrata de nível médio, cujo dia-a-dia é monótono e insatisfatório. O feito de que mais se orgulha é nunca ter faltado ao emprego durante os trinta anos em que trabalhou na secção do cidadão da Câmara Municipal. Kenji não se arrepende da mundanidade da sua existência simplesmente porque desconhece qualquer outra opção. Porém, tudo muda ao descobrir que tem um cancro e já não tem muito tempo de vida. Nos meses que lhe restam, Watanabe reconsidera as suas prioridades e realizações, e decide que nunca é tarde de mais para mudar o mundo. Todas as suas energias são canalizadas para a construção de um parque público – um pequeno gesto que, para Kenji e Kurosawa, carrega, contudo, grande significado.

Ikiru celebra a existência, apesar de o seu tema girar em redor da morte e do desgosto. Kurosawa, graças ao seu talento, mostra-nos como estes sentimentos não se contradizem, antes se completam, enquanto elementos do ciclo da vida. Na aldeia global e cínica dos nossos dias, a crença na importância das pequenas coisas, tal como é defendida pelo cineasta, não poderia ser mais tocante.»

in
"1001 filmes para ver antes de morrer".


15 abril 2010

14 abril 2010

4ª sessão :: Política | quinta às 18h


With malice toward none, with charity for all, with firmness in the right, as god gives us to see the right let us strive on to finish the work we are in.

Mr. Smith Goes to Washington (1939) de Frank Capra

Quinta, às 18h | sala 260
*apresentação a cargo de um professor da faculdade

12 abril 2010

1ª sessão :: África e o Terceiro Mundo | terça às 18h30

NOWHERE IN AFRICA | Nirgendwo in Afrika (2001)
de Caroline Link . Alemanha . 121 min .

SINOPSE: Antes da eclosão da II Guerra Mundial, uma família judia de origem alemã (Redlich), emigra para o Quénia para fugir ao terror Nazi, onde Walter (Merab Ninidze) anseia ocupar o lugar de administrador de uma quinta. A sua esposa Jettel (Juliane Kohler), habituada a grandes luxos e elegância, vai ter sérias dificuldades em se adaptar a esta nova vida. O mesmo não acontece com a filha Regina de 5 anos (Lea Kurka), que logo se encanta com a beleza natural de Africa e instintivamente se afeiçoa ao novo continente.
O casal encara mal a nova realidade, o que acaba por gerar problemas no seio familiar. Mas com o passar do tempo, Jettel vai sendo conquistada pela beleza e complexidade deste novo mundo. Será que os Redlich vão conseguir adaptar-se a esta nova realidade? Esta será, sem dúvida, a grande questão.

*

Sessão às 18h30 (pontualmente) | Sala 260 | Entrada Livre

A apresentação ficará a cargo da Associação GAS'ÁFRICA. Para mais informações sobre esta associação consultar o seu website


07 abril 2010

O cineclube apresenta na próxima semana


CICLO CINEMA E CIDADANIA


África . Ambiente . Direitos Humanos . Política

dias 13, 14 e 15 de Abril | sala 260 FEP | Entrada Livre


Terça dia 13 | ÁFRICA E O TERCEIRO MUNDO

18h30 :: Nowhere in África (2001) de Caroline Link
Óscar Melhor Filme Estrangeiro | IMDb | Trailer
*apresentação a cargo da Associação GAS'ÁFRICA

*

Quarta dia 14 | AMBIENTE E DIREITOS HUMANOS

15h30 :: The Man who Planted Trees (1987) de Frédéric Back
Óscar Melhor Curta Animação | IMDb

16h :: The Times of Harvey Milk (1984) de Rob Epstein
Óscar Melhor Documentário | IMDb | Trailer

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Quinta dia 15 | POLÍTICA

18h :: Mr. Smith Goes to Washington (1939) de Frank Capra
Óscar Melhor Argumento Original | IMDb | Trailer
*apresentação a cargo de um professor da faculdade

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Este ciclo é promovido no âmbito da iniciativa MISSÃO CIDADANIA | SHAKING MINDS'10, organizada pela Secção de Intergração Académica e Profissional da FEP.

02 abril 2010

3ª Sessão | próxima terça :: 6 de Abril

Nas palavras de João Bénard da Costa, "este é um filme sagrado. É também - uma vez mais - um grande filme romântico. Esgotaram a imaginação a inventar-lhe parentescos. Leiam o Cesário, o do Sentimento de um Ocidental: “A dor humana busca os amplos horizontes / tem marés, de fel, como um sinistro mar”. É possível viajar por estas Recordações com o poema de Cesário como lâmpada de bolso. Quem se desorientar, orienta-se com ele. Para chegar ao mesmo verso e à mesma conclusão. O lençol de Dreyer e a sombra de Murnau. Meus filhos, são filmes destes que, pousando, vos trarão a nitidez às vidas. A todas as vidas."

Esperamos que nos agraciem com a vossa presença na primeira exibição de um filme português no Cineclube de Economia. A quem é que não faz falta alguma nitidez na vida?

Recordações da Casa Amarela (1989) de João César Monteiro | Leão de Prata no Festival de Veneza | Portugal, 122min

terça feira, 6 de Abril, pontualmente às 18H30, na sala 260

01 abril 2010

Bonecos e valores

Isto de se ter irmãos mais novos também tem as suas vantagens. Uma delas é podermos usar esse facto como desculpa para nos deliciarmos com os últimos filmes de animação sem acharem que sofremos do síndrome Peter Pan.
O cinema americano de animação sempre foi e continua a ser (obrigado Pixar, obrigado Dreamworks) extremamente fecundo em grandes obras nesse género particular. A atenção que mundialmente se dá aos bonecos de Hollywood é (grosso modo) bem devida pela reconhecida qualidade artística. Mais: pela reconhecida qualidade sociológica; desde Walt Disney até John Lasseter o tema das histórias destes filmes não se separa do ideal do sonho americano (que comanda a vida e todo o enredo), da afirmação individual contra a incompreensão social - o believe in yourself, do regresso às origens e aos verdadeiros (puros) valores americanos. Não são intenções condenáveis, não é essa a questão (bem pelo contrário, já que inspiram tão belas histórias); aliás, outros grandes produtores de animação, como a França e o Japão, com abordagens e a mensagens diametralmente diferentes produzem filmes tão bons ou melhores. O que é comum a todas as cinematografias é o facto dos filmes de animação serem o reflexo mais nítido dos valores socialmente aceites e tidos como desejáveis por um país ou por uma cultura; isto é, aqueles que se pretende inculcar à geração seguinte.
Estranho é, contudo, quando esses valores (sejam quais forem, não importa) interessam mais aos putos que aos graúdos. Aliás, nos filmes de "imagem real", a inércia de defender no ecrã o que quer que seja (o país, a diferença, a igualdade, o amor, o sexo, a promiscuidade, a própria inércia) é tão declarada e tão cool que, no máximo, o que nos chega às salas são filmes idealistas light, como convém à sensibilidade do espectador mediano.
"How to train your dragon" é o último filme da Dreamworks. Vão ver, vale a pena. A relação entre aqueles dois bonecos lá em cima, um humano e um mitológico é o mais forte do filme - isto é importante, é a definição do motor do filme a partir do qual tudo (desse para sublinhar também o faria) o resto deriva directa ou indirectamente. E da relação de companheirismo entre os dois temos o pódio para a verdadeira apologia de tudo o que escrevi em cima: a luta pela afirmação do indivíduo, da diferença, o gosto pelo desconhecido, a procura das raízes da sociedade... enfim, descubram o resto! E depois digam se o ideal-motor, a amizade, não fundamenta todos os outros.

24 março 2010

O Pai, os Filhos e a Rússia


Esta crítica foi escrita para ser distribuída na sessão de ontem em que exibimos O Regresso. É longa demais para ler num ecrã de computador (possivelmente desinteressante demais para ler de qualquer maneira), mas como já estava pronta não me apeteceu editá-la numa mais contida versão online.

O início

Dois jovens irmãos russos vivem com a mãe e a avó e já não recordam o seu pai, que viram pela última vez quando ainda eram crianças muito pequenas: dele só conhecem a fotografia que guardam numa arca no sotão.
É para esta memória de papel que correm a confirmar a identidade do homem que está deitado na cama da mãe deles e que ela lhes diz ser o seu pai: a dormir, com o lençol envolvendo-lhe as pernas, o pai (a fotografia confirma que é ele) aparece aos miúdos, e aos espectadores, exactamente como a qualquer visitante da Pinacoteca di Brera em Milão aparecerá o Cristo da “Lamentação sobre o Cristo Morto” de Andrea Mantegna (no topo do post). Esta perspectiva forçada sobre o corpo do pai, reutilizada na viagem de regresso no barco, e outras referências cristãs disseminadas pelo filme são suficientes para suportar uma integral interpretação cristã da história, mas o sucesso do filme e a sua apreciação não dependem desse nível de significado subjacente à narrativa.*



O meio
Antes do regresso do pai já os dois personagens principais foram definidos e caracterizados com a intensidade e a economia que serão constantes do filme. Também logo na primeira cena somos apresentados a dois influentes e cúmplices participantes do filme: a natureza russa e o brilhante trabalho de fotografia de Mikhail Krichman. Os lagos e a chuva, a floresta densa, a praia, a estrada, a ilha, são o ambiente fulgurante e de virginal mas desolada beleza em que se desenrola a viagem, primeiro num carro e depois num pequeno barco, que os os filhos fazem com o pai. O ambiente natural e a meteorologia reflectem durante todo o filme o conflito entre as personagens, e são utilizados para criar várias imagens perturbadoras e paradoxais: no meio de um lago sem fim à vista, a chuva é tanta que os irmãos e um espectral pai parecem habitar um cubo metálico. A viagem tem a consequência habitual (talvez um nada mais dilacerante) das viagens nos filmes e nos livros, na arte em geral: nada será como dantes; embora, neste caso, algo tenha voltado definitivamente a ser como sempre fora. A localização das cenas inicial e final em cenários similares, torres de madeira que sobrepujam um pontão, no início, e um terreno de uma ilha, no fim, para além do efeito de simetria, põe em evidência, sobre um mesmo fundo, as mudanças que a viagem e os acontecimentos infligiram às personagens. Até à resolução, vai engrossando a tensão da resistência do filho mais novo ao pai, entrelaçada com a solidariedade esforçada entre os irmãos que já tinham aprendido a sobreviver sem um pai e as suas severas lições de vida viril empurradas com shots de vodca. Apesar do tempo que passa com os filhos, o pai não deixa para eles de ser um homem obscuro, um enigma encerrado numa caixa afundada, ou uma fotografia encerrada num baú.



O fim
O filme termina com a apresentação de uma sucessão de fotografias a preto e branco com uma qualidade nostálgica imediata: parecem ter sido tiradas há muitos anos e toda a gente parece tão feliz. Compreendemos logo que são as fotos que Andrey e Ivan tiraram durante a a viagem com o pai e em nenhuma delas, exceptuando uma de um tempo mais antigo, o pai aparece. É como se o pai, essa personagem opaca durante todo o filme (não sabemos, nem sabem os seus filhos, porque voltou, onde esteve, quem ele é), tivesse regressado para ser um mero instrumento no crescimento dos miúdos. Ivan ultrapassa a infância ao escalar a torre tão alto quanto é possível e Andrey imediatamente depois da morte do pai assume uma posição paternal em relação ao irmão, mais novo: com o relógio do pai no pulso, dá-lhe ordens, e enquanto o irmão sofre visivelmente com a morte do pai, ele parece resignado.
A ameaça, mas também uma inabilidade em se relacionar, que, por palavras e silêncios, actos e omissões, o pai demonstra são representadas com perfeita contenção por Konstantin Lavronenko. Vladimir Garin e Ivan Dobronravov, os actores que representam os irmãos, são excelentes no seu primeiro filme, e, no caso daquele, último: o actor que interpreta o papel de Andrei, o irmão mais velho, morreu afogado num lago não muito afastado daquele em que rodara o filme algumas semanas antes. Mas a estreia mais auspiciosa é a do realizador Andrei Zvyagintsev. A economia da narrativa, as relações muito bem calibradas entre personagens, as interpretações impecáveis, e a forma como tudo é mostrado, a um ritmo lento mas contínuo, fluido, exibem uma segurança invulgar num filme inaugural. O segundo filme, Izgnanie (inédito em sala ou em DVD em Portugal, mas traduzido, e mal, a partir do inglês, como O Desterro) imita O Regresso no tema cristão, supera-o em exuberância visual, e fica aquém deste na condução da narrativa: o resultado líquido é quase tão bom, e não devia ser preciso recorrer a meios ilegais nem ao comércio internacional para lhe ter acesso.


*Para além da primeira imagem crística, quando os filhos vêem o pai deitado na cama, há um plano muito similar quando o pai está deitado no barco a remos, e ainda o do pai caído na terra sob a torre; e na primeira refeição o pai ordena que aos filhos seja servido o vinho, e divide à mão o alimento entre eles; contribui também o nome do irmão mais velho: André era um pescador que seguiu Cristo como seu discípulo assim que o conheceu, e depois da morte de Cristo terá pregado a sua palavra em regiões que correspondem à actual Rússia; há ainda as reacções polarizadas que o regresso deste pai e a aparição de cristo causaram: a resistência, a desconfiança e a ameaça de uns, e a rendição incondicional à sua figura de outros; sem esquecer o mais evidente: a morte do pai.

Trailers dos próximos filmes











Como chegar à sala do Cineclube (260)

clicar na imagem para ver em formato grande

23 março 2010

Samurais e humanismo: o centenário de um Mestre

Akira Kurosawa (1910 - 1998) nasceu há precisamente cem anos. O Cineclube presta-lhe homenagem com a projecção da sua obra mais "humanista", Ikiru (1952), no próximo dia 20 de Abril. Infelizmente, a filmografia do mestre nipónico editada em Portugal (em DVD) resume-se a um punhado de obras, ficando o público privado de alguns dos mais belos filmes já feitos - aquele já referido, que ao nosso país chegou com o título "Viver", é, na minha opinião, um desses belíssimos exercícios de Cinema.
Kurosawa mostrou-nos que só alguns, pela coragem e pela honra, conseguem ser grandes guerreiros. Se, para além disto, demonstrarem ter coração, talvez consigam ser Samurais.



20 março 2010

2ª sessão | próxima terça :: 23 Março



O Regresso (2003) de Andrei Zvyagintsev | Leão de Ouro em Veneza | Rússia, 105 min

terça às 18h30 (o filme começa pontualmente a esta hora) na sala 260

15 março 2010

"A" árvore


em homenagem às árvores retiradas à faculdade nestes últimos dias, duas das cenas mais famosas do cinema americano em que a árvore é, no filme, a única bandeira de vida, de resistência, de esperança e, finalmente, de paz e pertença. É o espirto de Scarlett materializado, a seiva a correr pelos seus ramos, as raízes bem presas à terra. Gone with the Wind.

13 março 2010

Ciclo Cinema Saúde Doença

todas as terças de 16 Março a 20 Abril (excepto 30 Março) às 21h30 nos Cinemas Medeia Cidade do Porto (mais informações)

07 março 2010

alfred hitchcock presents

NOTORIOUS
(1946)

com Cary Grant, Ingrid Bergman e Claude Rains | imdb

1ª SESSÃO: esta terça (dia 9) às 18h30 na sala 260 da FEP
entrada livre

01 março 2010

III Ciclo do Cineclube de Economia: Março a Junho 2010


Os filmes

Notorious de Alfred Hitchcock | 09 Março

O Regresso de Andrei Zvyagintsev | 23 Março

Recordações da Casa Amarela de João César Monteiro | 06 Abril

Ikiru de Akira Kurosawa | 20 Abril

Into the Wild de Sean Penn | 27 Abril

O Homem da Câmara de Filmar de Dziga Vertov | 11 Maio

Le Samurai de Jean-Pierre Melville | 25 Maio

City Lights de Charles Chaplin | 01 Junho

28 fevereiro 2010

Este semestre em Direito

*
04 Março
- McCabe & Mrs. Miller, Robert Altman
18 Março - Days of Being Wild, Kar Wai Wong
08 Abril - The Apartment, Billy Wilder
22 Abril - 12 Angry Men, Sidney Lumet
13 Maio - Boyz n the Hood, John Singleto

(os trailers dos filmes aqui)