Em fundo negro, um rapaz e uma rapariga, muito novos, fazem festas um ao outro, como quem brinca, como quem se perde. Ao fim de alguns instantes, beijam-se. Mas o beijo é subitamente interrompido (sem que nada na imagem o motive) e os dois voltam-se para a câmara, fitando os espectadores, como se subitamente se apercebessem da presença dela, ou da presença nossa. Sobre o plano, uma legenda diz: 'This boy and this girl were never properly introduced to the world we live in.'
Ao longo da sua da sua carreira, Nick Ray mais não fez que contar a mesma história, a história dos que vivem na noite
, dos que nunca foram 'properly introduced to the world we live in'.
Dos que viveram e morreram contradizendo-se a si próprios, perdendo quando ganhavam e buscando, sempre, tarde de mais, esse breve momento perfeito cuja perfeição os assustou, não sabendo como beijar, como amar, como lutar, como vencer - não sabendo viver, não sabendo morrer. Dos 'ternos guerreiros'
cujo encontro só é possível na fragilidade e no efémero, 'incompreendidos dos homens e das coisas',
rebeldes sem causa, inocentes selvagens, daqueles para quem a mentira é 'coisa séria de quem se sente impotente em relação a si próprio' e a verdade é idêntica e tão forte e tão séria como ela.Tudo isto ou todos esses que Nick Ray falou sempre, estão todos e em tudo de THEY LIVE BY NIGHT
que não será exagero considerar um dos mais comoventes filmes jamais feitos.por João Bénard da Costa,
in "As Folhas da Cinemateca" (adaptado)
Sem comentários:
Enviar um comentário